Escrita Tribal

domingo, maio 08, 2005

A culpa é do Ensino

Há pouco lembrei-me da minha infância. Porquê? Porque li uma vez que se nos queriamos conhecer a nós mesmos, tinhamos de compreender de que forma o nosso Passado deu origem a quem somos hoje. De início também pensei que já era difícil o suficiente lembrar-me do que havia jantado ontem, mas achei que não havia nada a perder. Acontecia-me muito isto no Passado: pensar que qualquer direcção é melhor que não ir a lado nenhum, que não há nada a perder em tentar, pois mesmo o "fracasso" torna-se aprendizarem e deixa de ser fracasso. Adiante, com a prática comecei realmente a lembrar-me de muita coisa no meu Passado, e deixei de agir impulsivamente sem saber porquê, passando a agir impulsivamente sabendo exactamente porquê (ou julgando que o sabia).

Ah! Mas já estou a entrar novamente por outros assuntos. Já me disseram que eu faço muito isto (que estou a fazer agora mesmo), que para explicar ou contar uma coisa dou voltas e voltas e nunca mais chego ao "fim da história". Geralmente quando alguém faz uma pergunta, espera que lhe respondam, não que lhe contem a história de como chegámos à resposta e do que achamos da pergunta. Lembro-me da minha mãe me contar histórias do emprego e perder-se em tantos pormenores (e muito tempo perdia ela a tentar lembrar-se dos pormenores), que eventualmente eu lhe dizia "esquece esquece, não interessa, conta lá então o que se passou!"

Mas lembrava-me eu da minha infância:
Recordo-me da minha vida preenchida de criança, brincar, ver televisão, as aulas de desporto (foram vários), e a escola. Nesses tempos, o pouco que me podia chatear era chegar tarde demais a casa e perder um episódio de um qualquer programa, ou não achar facilmente uma peça de Lego (tm) que tinha a certeza estaria escondida em frente aos meus olhos. Tinha grandes notas na escola, não me lembro se era muito sociável ou não, mas não tinha conflictos com ninguém apesar de não me lembrar de brincar muito fora de casa. Namorar nessa altura era coisa que me passava completamente ao lado. Achava algumas meninas mais bonitas que outras, mas não compreendia o propósito dos namoricos e achava essas brincadeiras infantis.

A minha mente dá então um salto temporal, e lembro-me de uma aula do 10º ano talvez, de estar farto de passar os meus dias enfiado naquela escola de dois andares fria, branco-sujo e velha. O equipamento escolar era feio (mesmo o que era novo), as mesas eram de um claro verde-menta enjoativo, e nesses tempos o pouco divertimento que eu encontrava dentro de uma sala de aula era quando achava um diálogo escrito na parede ou cravado na madeira das cadeiras (rígidas e pouco confortáveis), entre dois desconhecidos de duas aulas diferentes de tempos diferentes, que se correspondiam quando regressavam aquele mesmo lugar onde estava eu agora, e encontravam a resposta insultuosa um do outro. Nunca achei da minha conta interferir nas suas "conversas" privadas, pensando que hoje talvez o fizésse... nah... de facto não era da minha conta e não tinha nada para lhes dizer que não acabásse por se tornar objecto de algum adjectivo menos simpático à minha mãe.

Pois era (pois foi), a escola aborreceu-me e tentou matar-me de tédio até eu descobrir que a vida não fazia sentido. Só pode ter sido a escola, porque os programas de televisão continuavam a ser interessantes, continuava a praticar algum desporto, e continuava a aumentar a minha colecção de Lego (tm).
Ah! Já me esquecia da tal aula do 10º ano... nessa aula eu analisei o percurso e objectivos de um comum cidadão, e saiu algo do tipo:

nascer, crescer e estudar para arranjar emprego e casar, e conseguir ter dinheiro para pagar as contas e poder ter um filho que repita o processo.

Ainda hoje a minha colega de carteira se recorda deste meu enlace mental, revelando o trauma que lhe provoquei. Achava-a tão simpática. Era pouco social, mas isso era devido a ser sincera e admitir as suas ideias publicamente. De qualquer maneira nós davamo-nos bem, e ela dizia que me "compreendia", e para eu não me preocupar com os meus colegas porque eles eram uns parvos para toda a gente que fosse "diferente". Admirei-me com ela e pensei - "diferente!?". Ela era diferente, vestia roupas largas e coisas com folhos e rendados que pareciam ter pertencido à mãe, e eu achava-a engraçada, apesar de não perceber porque vestia aquelas coisas em vez de roupa mais actual. Parecia-me zangada com alguém ela, mas tinha uns olhos lindos azul água.

Pois foi...lembro-me tão bem...

...mas o mundo nessa altura não fazia sentido, e a culpa foi do Ensino. Os senhores do governo podiam tê-lo feito mais divertido, para evitar que os jovens sentissem necessidade de encontrar a razão de ser das coisas.

6 Comments:

  • concordo plenamente... a culpa é do ministerio da educaçao e do governo e mai nd. axu ke deviamos aproveitar a vida a fazer coisas + interesantes do ke a estudar, afinal a vida é tao curta por ixu deviamos gasta-la em coisas ke nos dao realmente gozo...como fazer construçes de lego neh?

    By Anonymous Anónimo, at 8:32 da tarde  

  • Estudar pode ser interessante. Depende do interesse de cada um creio eu. Acredito que todos os cientistas, pedagogos, médicos e investigadores em geral que precederam e deram origem aos conteúdos que nos leccionam hoje em dia nas escolas, terão tido um gozo enorme nas suas descobertas. O seu sucesso só poderá ter sido resultado disso mesmo: do seu entusiasmo nas matérias que estudavam e pesquisavam. Todos os grandes homens e mulheres da história tinham paixões, fosse por Deus, pela Arte, pela Ciência, pelo Amor... e foi no desenvolvimento dessas paixões que se tornaram grandes homens e mulheres.

    Actualmente quantos de nós revelam esse entusiasmo? Passamos anos em aprendizagens de carácter geral (que nos parecem estranhamente específicas por vezes e nos fazem duvidar da sua aplicação na vida real), justificadas pela necessidade de estarmos preparados para as diversas possibilidades da vida. O sistema de ensino esquematizou-se de tal forma, que ao invés dos alunos encontrarem na escola um local de valiosas oportunidades para adquirirem conhecimentos úteis e desejados à sua integração social, à realização dos seus sonhos de criança, acabam por ser "torturados" com informações que nunca desejaram sobre assuntos que não lhes despertam qualquer interesse.

    Uma sociedade assim não dá ao habitante a liberdade de escolher o seu caminho, de se conhecer e às suas paixões, mas afirma-se insolentemente ao cidadão para que este se adapte à "realidade", impõe-se com o que dele necessita para se manter a si mesma, e insulta os jovens com a noção de que não sabem o que querem e precisam de engolir todas as informações escolares para serem Homens. Talvez nem saibam, mas numa aprendizagem claramente viciada direccionalmente, forçada, cada vez mais saturada de conteúdos específicos, explicações e exames stressantes, o que esperar dos jovens?

    Parece bastante lógico que neste cenário se alimentem mal, bebam café para estarem atentos nas aulas (que deveriam ser interessantes) e para conseguirem acordar (algo que devia ser natural em qualquer organismo após dormir as horas necessárias), consumam tabaco afim de contrabalançar o stress resultante da pressão social, ou tornando-se num hábito social de quem, numa vida caracterizada por rotinas sem interesse pessoal e sem descobertas entusiasmantes para contar aos amigos, sinta necessidade de partilhar um interesse comum, um ritual de consumo de nicotina em grupo.

    E depois de 5 dias de "entusiasmo", acredito também ser bastante lógica a necessidade de "apagar" a consciência das memórias semanais, e aos Sábados à noite fazer tiro ao alvo aos neurónios mais activos com diversas armas alcoolizantes, estupefacientes e alienantes, justificação que não deixa de ser triste.

    O que esperar dos jovens? Acho que devemos esperar exactamente o que temos vindo a obter, já que parece ser resultado directo das condições em que crescem e são educados. Obteremos cidadãos, adaptados (seja por integração ou não) à sobrevivência e manutenção do nosso estilo de vida e da nossa sociedade.

    By Blogger Paulo Trindade, at 1:51 da manhã  

  • Fogo man!!Essa cena de "nascer, crescer e estudar para arranjar emprego e casar, e conseguir ter dinheiro para pagar as contas e poder ter um filho que repita o processo" assustou-me um bocado pq dá a sensação de que somos programados e repetimos tudo como se fossemos máquinas.O que é engraçado é que eu já havia pensado nisso mas eu n deixava esses pensamentos se tornarem certeza dentro de mim.Eu me recriminava, sentia que era diferente e partilhava esses pensamentos com minha família que por sua vez n dava importância por ser puto.E pra mim n me "afastar" dos meus amigos procurei isolar essa visão algures dentro de mim.E o que eu curto é que tu mantivestes essa visão e agora vejo que eu não era e nem sou nenhum maluco!! Mas tbm concordo com a sheila!!! Lol abraços

    By Anonymous Anónimo, at 4:26 da tarde  

  • Muitos jovens se questionam sobre isso, quando sentem a necessidade de encontrar o "sentido da vida". Não é uma questão com uma resposta simples, e as respostas possíveis não agradam a toda a gente. É de esperar que quando um indivíduo no desenvolver das suas ideias chega a uma conclusão não muito agradável, se tente proteger automaticamente da dor da desilusão (desilusão como em deixar de estar em ilusão).

    Tocaste num ponto interessante, porque muitas pessoas evitam a conclusão de que andamos no geral a repetir as mesmas acções, geração após geração, e que possamos estar a viver como máquinas programadas. Não é de admirar que as pessoas que se apercebam dessa possibilidade tentem "escapar" à ideia. De outra forma entrariam em conflicto com a "máquina social", com a cultura, hábitos característicos da nossa sociedade, etc., prejudicando imediatamente a sua sociabilidade, e obrigando a algumas sérias mudanças na sua filosofia e hábitos de vida.

    Assim, segundo certas perspectivas é preferível sacrificar essa visão assustadora, fechar esse conhecimento dentro de nós, e continuar a representar a personagem que a vida nos ofereceu, lamentavelmente talvez, pois quanto mais tempo permanecemos como máquinas, mais difícil se torna deixar de o ser.

    Cabe a cada um na sua liberdade efectuar as escolhas que determinarão quem é e quem será.

    By Blogger Paulo Trindade, at 3:15 da manhã  

  • boa man!!!
    tou gripado n consigo pensar! Lol

    By Anonymous Anónimo, at 11:29 da tarde  

  • É verdade, o sistema de ensino está mesmo lixado. Em 12 anos de escolaridade só tive 1 stôr que realmente me iluminou a cabeça. Fazia-nos pensar e agir por nós próprios, dava-nos confiança e liberdade para acreditar que não temos de ser as máquinas de que tu falaste. Ao contrário da maioria dos professores (senão de todos) ele não se limitava a dar a matéria do programa, a ler as coisas do manual e no final, escarrapachar aquilo tudo num teste. Ele realmente iluminava-nos e fazia-nos entender a complexa mente humana de uma forma + bonita.
    São mais professores como ele que este país (e Mundo) precisam.

    By Anonymous Anónimo, at 10:21 da tarde  

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