Escrita Tribal

quarta-feira, novembro 09, 2005

Inevitabilidade

Um salvamento não é mais que uma interferência directa na ordem natural da vida e da morte. Alterar um destino que estava traçado, atenuar um karma, é assinar um pacto de ligação com o ser que "salvámos", cujo bem-estar passa a estar dependente da nossa influência.

Um ser cujas decisões na vida, com sua força e fraqueza, que ao longo da construção da sua história se colocou numa situação de dificuldade, mesmo que seja afastado por acção externas, irá tender a voltar à situação onde se encontrava, à continuidade da escrita da sua própria história. Esse foi todo o seu esforço até esse ponto na vida, e quem está disposto a deitar toda a sua vida para o lixo de um segundo para o outro? Quem vai largar mão de tudo o que juntou e valorizou durante anos, mesmo que aos olhos de outras pessoas sejam coisas sem valor?

A personagem que ele criou em si mesmo será sempre a mais marcada. Mesmo que seja uma personagem suicida, o "bom samaritano" que evite a continuidade dessa personagem estará a agir contra a liberdade desse ser, e todo o ser que se sinta oprimido tentará libertar-se, mesmo que depois utilize essa liberdade para se atirar num poço.

Portanto...
Pensem duas vezes antes de tentar salvar um cão ou um ser humano, pois não é somente a vida deles que estão a modificar.

Um homem junta uma fortuna durante 40 anos, composta de pequenos e grandes objectos, opiniões, ideias, memórias, valores, morais, conclusões, vitórias ganhas com sangue, suor e lágrimas. Carregado como todos os seus semelhantes, e sempre preocupado na manutenção da sua fortuna, tem de mover-se por caminhos acidentados e traiçoeiros na "selva urbana", cheios de raízes salientes, poças mais ou menos profundas, folhas molhadas e escorregadias, enquanto se cruza com outros carregadores de pesadas fortunas, partilham histórias, fazem negócios e tentam sempre aumentar a sua própria fortuna. Ao longo da vida o homem aprende a cair e a levantar-se, pois no meio de tantas armadilhas é inevitável que se suje, tropece e caia algumas vezes.

Um dia esse homem, caminhando por caminhos cada vez mais perigosos e cada vez mais "rico" e pesado, chega a um ribanceira íngreme e escorregadia e começa descê-la como consegue. Equilibra-se e usa toda a sua habilidade para se manter de pé e à sua fortuna, como fez toda a sua vida. Fá-lo como os seus semelhantes que vão pelo mesmo percurso. Com cada vez mais dificuldade vai acelerando a sua precipitação na ribanceira, e eis que de repente, uma fossa, poço, um grande buraco, daqueles que numa situação "normal" qualquer pessoa veria, passou despercebido até estar sob os seus pés...e o homem cai no escuro.

Depois de 40 anos em esforço, quem de um momento para o outro começa a perder tudo o que tinha, vai tentar salvar tudo o que conseguir, agarrando-se como puder aos seus pertences, a qualquer preço...

A cada passo, a cada ano de fortuna, a cada minuto que caminhamos, mais difícil será um dia, se necessário, mudar de caminho, e por cada passo numa direcção contrária, outro passo terá de ser dado em direcção oposta.

Enquanto somos jovens é tão fácil pensar que todas as portas estarão sempre ali e que a qualquer momento podemos mudar de ideias, que não temos nada a perder e tudo é reversível, que tudo tem solução, que temos tempo para tudo, todas as loucuras, todas as aventuras, mesmo que para isso tenhamos de ser... inconsequentes...

O tempo que não existe só dura até um certo dia.

6 Comments:

  • hmmm temos de tentar manter-nos ligeiros e evitar fortunas ke nao nos vao valer da nada kndo precisar.mos de evitar as armadilhas. n axas? :)
    será ke é inevitável a acumulação de fortuna com o passar dos anos ou seremos capazes de nao o fazer..de ter 1 caminho o mais leve possivel?

    By Anonymous Anónimo, at 3:02 da tarde  

  • É inevitável que com o passar dos anos nos tornemos mais "ricos", mas a substância dessa riqueza pode ser interior ou exterior, pode-nos pesar nos ombros ou pelo contrário deixar-nos mais leves. Porém continuará sempre a ser da liberdade de cada um procurar dar significado à sua vida à sua maneira, buscando esse preenchimento interior ou exteriormente.

    By Blogger Paulo Trindade, at 4:59 da tarde  

  • E por causa de estarmos a interferir com a morte não deveremos salvar um homem? Não acredito nisso. O ser humano desafia a morte desde o principio do tempo, faz parte da sua natureza. E a riqueza que adquirimos durante os anos, pode ser como disseste exterior: dinheiro, propriedades, etc; ou pode ser interior: experiência, sabedoria, etc; mas nós é que escolhemos a nossa "riqueza". Está nas nossas mãos. O ser humano é raro estar completamente satisfeito; temos de aprender a contentarmo-nos com as pequenas coisas da vida.

    By Anonymous Anónimo, at 6:30 da tarde  

  • Quem salva uma vida, antes de interferir com a morte, interfe com o decurso da vida do ser que está em causa. Ele levou-se até à situação por sua liberdade, determinação, crenças ou teimosia. Podes tentar aguentar por exemplo que um homem cego pelas suas convicções se atire num precipício, mas provavelmente estarás apenas a adiar a sua queda, a não ser que dediques o resto da tua vida à preservação da sua vida.

    Já pisaram a Terra bastantes seres que dedicaram a sua vida à salvação/despertar da humanidade, mas se reparares, a história tem tendência a repetir-se, e a aprendizagem do Homem com a sabedoria desses seres é muito questionável.

    Em relação ao que está nas nossas mãos, depende daquilo que se consegue alcançar. Muitas vezes determinadas riquezas não estão ao nosso alcance imediato, e face a uma tarefa imensa há muitos que preferem desistir ou optar pelo caminho mais "fácil", aquele que tem todo mecanismo social para ajudar. Por vezes escolhemos o que nos dão, e convencemo-nos de que nos basta, acomodamo-nos aos padrões, e ainda nos achamos muito livres, porque tivémos a liberdade de escolher a esmola que preferíamos.

    Sim, é bom contentarmo-nos com as pequenas coisas da vida, se de facto ficarmos satisfeitos. Há também quem necessite de ir mais além, de trilhar o desconhecido e desbravar o misterioso, mas esses contentam-se com outras coisas, que pertencem a "outra realidade", mesmo que possam ser também pequenas coisas de um outro mundo.

    By Blogger Paulo Trindade, at 8:12 da tarde  

  • Por vezes um pequeno gesto pode mudar muita coisa. São as coisas pequenas que fazem a diferença. Dos que pisaram a Terra com a intenção de salvaram\despertar a humanidade, é verdade que não conseguiram salvar toda a humanindade, mas acho que salvar uma pessoa já é bom. Acho que o que conta não é quantos salvamos, mas sim se os salvamos. E quanto aqueles que não se satisfazem com aquilo que têm e necessitam de trilhar o desconhecido e desbravar o misterioso, tal instinto, tal curiosiedade, esteve connosco, a raça humana, desde que caminhamos por este planeta. Faz parte de nós, e essa curiosiedade que nos levara a outros, melhores caminhos no futuro. Há que ter fé meu amigo ;)

    By Anonymous Anónimo, at 9:09 da tarde  

  • temux que escolher bem o q fazemos durante esse tempo.Há vezes q escolhemos andar em direcções q em principio achamos q é a melhor ms depois vemos q n é akilo q vai saciar o nosso espírito e depois voltar atrás é mto complikadu...e td o tempo q se perde...e a nossa vida q por vezes assistimos ela passar por nós e nós como se atados n fazemos nd...temux q refletir. [[]]

    By Anonymous Anónimo, at 7:12 da tarde  

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