Escrita Tribal

domingo, agosto 14, 2005

Receitas

Receita da Felicidade:

Rodeiem-se de coisas belas, deixem-se contagiar. É difícil estar mal disposto quando se está rodeado de coisas que nos maravilham.

"Percam" tempo a observar uma flor, um quadro, uma música, a ler, façam as coisas que gostem. Se isso não é dar bom uso ao vosso tempo, então o que será?

Estejam com as pessoas que vos fazem bem. Se depender dos esforços delas... Recomenda-se gente feliz e saudável, porque se estão nessa situação é porque estão a fazer alguma coisa bem.

Sejam optimistas. Tudo o que acontece tem várias perspectivas, portanto, escolham uma agradável.


Receita da Infelicidade:

Rodeiem-se de coisas que não gostam. É mais fácil estar infeliz quando nada em nosso redor nos agrada.

Não usem o vosso tempo com coisas que gostem de fazer. Se isso vos pode animar, então é melhor evitar.

Estejam com as pessoas que não vos fazem bem. Mesmo que elas não consigam à primeira, hão-de conseguir vos estragar alguma parte do dia (nem que seja a longo prazo).

Não percam tempo com optimismos. Vão directo para os pessimismos e assim, mesmo que a situação acabe por se tornar agradável, sempre conseguiram estar infelizes até esse momento.

sábado, agosto 13, 2005

Um conselho sábio

Perguntaram-me se hoje não ia sair.
Respondi que não era "hoje", que já era normal não sair.

Perguntaram-me porquê, e respondi que no geral o meio e as pessoas que costumam sair pelos vistos não apreciam muito a minha companhia.

Perguntaram-me porquê, respondi que seria incompatibilidade com os hábitos de vida deles talvez, que talvez fosse simplesmente devido a ser como sou, a pensar como penso e a ter feito as escolhas que fiz na vida. Talvez seja um símbolo de determinadas coisas que as pessoas preferem não encarar.

Perguntaram-me se não me estaria eu a excluir a mim mesmo.
Respondi que várias vezes saí com muita e variada gente, mas que aos poucos essas pessoas deixaram de me convidar para sair com eles, que dada altura não me incluíram mais na sua vida social.

A pessoa que até já conheço há muito tempo respondeu:
-Oh Paulo... há muitas pessoas que não te compreendem... e o teu ponto de vista sobre diversas coisas assustam um pouco. entendes? Tu tens um modo de pensar e de ver o mundo que muito pouca gente tem.

Respondi:
-Se me disserem que não me querem por perto para não terem de suportar o peso na consciência, isso já percebo. Não que os vá criticar, mas sei que sou um símbolo de coisas que não serão muito compatíveis com muitos dos hábitos nocturnos de muita gente.

E continuámos:
- És um símbolo muito raro dessas coisas.

- Mas nunca foi a minha intenção criticar as pessoas. Apresento outros pontos de vista e argumento e justifico-os, tendo em atenção, obviamente, os objectivos de cada um. As minhas escolhas têm um propósito.

- Mas se calhar por vezes as coisas que tu dizes e a maneira como as dizes, as pessoas sentem-se atingidas...

- Claro... mas a culpa não é minha.

- E talvez cheguem mesmo a ver-te como uma pessoa que assusta. Nem é bem isso. Nem sei o que é. É a tua personalidade. Tu falas as coisas com muita certeza do que dizes...

- E então?

- .... e às vezes isso pode dar a entender que estás a querer impingir a tua forma de pensar na pessoa...

- Eu tenho argumentos, não tenho certezas. Olha, se as pessoas enfiam o carapuço é lá com elas.

- Sim... e os teus argumentos são demasiado fortes para serem contra-argumentados porque tu os defendes muito bem.

- Sabes como começam as conversas comigo? Perguntam-me sempre alguma coisa, porque é que sou vegetariano ou algo assim, e eu tenho obviamente de me justificar. Durante essa justificação, toco nalguns pontos sensíveis das pessoas mas atenção, não fui eu que coloquei os pontos sensíveis, elas é que os têm e provavelmente deixam esses pontos quietos, evitam tocar neles, para não terem de lidar com algumas coisas que não querem ver ou enfrentar.

Mas mais uma vez, a culpa não é minha. Eu respondo com as coisas que penso, devido ás escolhas que fiz e com um propósito pessoal. Isso devia ser à partida suficiente para as pessoas compreenderem que... é pessoal. Elas não têm de fazer nada do que eu faço a não ser é claro, que tenham objectivos comuns. Mas pronto, se se sentem atingidas, as minhas desculpas, mas então não me perguntem coisas com as quais se possam comprometer.

As fragilidades nelas, foram elas que as fizeram.

- Então tenta não atingir essas fragilidades delas. Aceita-as como são. Tu decerto também terás as tuas próprias fragilidades, todos as temos.

- Mas olha lá...

- Olho...

- Eu não tento atingir ninguém, eu não digo nada para atingir ninguém, nem eu posso saber onde é que as pessoas têm as suas fragilidades. Qualquer coisa que possa dizer pode ferir alguma susceptibilidade.

- Mas ás vezes podes não ter noção disso... do poder que as tuas próprias palavras exercem sobre algumas pessoas.

- Pronto... mas o que vou fazer?

- Tu és assim mesmo não é... Tens uma personalidade muito forte.

- ... ou me recuso a responder ás perguntas que elas fazem... o que depois me é levado a mal... já aconteceu fazerem-me perguntas, e eu dizer que prefiro não responder...

- Não.. recusar não... mas ás vezes podes simplesmente dizer as coisas de uma forma mais simples e então aí dizeres... ”se queres saber mais vai ler isto”.

- Se eu disser as coisas de modo mais simples, elas nunca vão obter uma resposta real...

- Eles que descubram por si próprios...

- Vão obter uma resposta para os despachar... também posso fazê-lo...

- É uma busca individual.

- Pois...

- Não foi o que tu próprio fizeste?

- Eu também ouvi muita gente. E sempre que alguém me disse alguma coisa que fazia sentido, eu adoptei essa perspectiva adicionei-a à minha. E sim, também li muita coisa, e pensei sobre muita coisa, e concluí muita coisa.

- Então se te voltarem a perguntar seja o que fôr, dá apenas uma resposta simples.

- Mando-os ir ler a profecia celestina, está certo, lol.

- Não aprofundes tanto.

- Lol. Vou confiar na tua sugestão.

- Resulta.

- Não era o que eu gostava que fizessem comigo. Não acho giro reter informação, mas ok... como elas depois vão bater mal com as respostas.

- Porque tu gostas de debater as coisas.

- Claro, debater coisas é uma forma de aprender coisas novas.

- Por isso é que te entusiasmas, e vais seguindo, seguindo, seguindo...

- Lol

- ... e aí é que se assustam mesmo.

- Lolol. Mas ainda não percebi com o que é que se assustam.

- Com a tua perspectiva...

- Eu não vou bater em ninguém. Mais mal se fazem eles a si mesmos e com isso já não se ralam.

- ... que está sempre bem definida e muito mais aprofundada, justificada... para ti mesmo.


E eu comentei:
- Pois, enfim - escolhas.

Ao que ela respondeu:
- Nem mais.

Designação de Amor (por encomenda)

Um grande assunto sem dúvida.
Como toca toda a gente, e toda a gente tem geralmente uma ideia sobre tudo (mesmo que não tenha sido a pessoa a pensar), isso faz do amor algo muito relativo. Como sempre, cada pessoa tem uma maneira de sentir determinada coisa, e não há como saber exactamente o que alguém pensa ou sente. Isto faz com que a declaração "amo-te" nunca chegue portanto a ser compreendida realmente.

Mas o que é o amor? O amor faz as pessoas dizerem, fazerem e pensarem coisas de uma maneira muito emotiva, isso será certo. Quanto à sua magnitude, talvez seja o maior dos sentimentos, o mais forte, ou talvez o seu "contrário" (se é que algo indefinido possa ter um contrário), o ódio, seja o maior, pois o ódio ultrapassa a racionalidade (incluindo até um incoerentemente chamado de ódio por amor), e toma controlo do ser, podendo levá-lo até a conspirar contra a vida. O amor, esse, por vezes não consegue ser maior que o medo, que a timidez... mas agora que se fala nisto, haverá realmente graus de intensidade de amor? Será que se pode medir? Haverá quem ame mais e quem ame menos, ou será que se ama, pura e simplesmente?

O nível de "pureza" do amor está então em questão. Se há a possibilidade de um amor puro e genuíno, quem terá acesso a tal sentimento? Será que toda a gente pode sentir tal sentimento, ou será que algo tão puro e raro só sobrevive em condições igualmente puras?

Falando de pureza, chega-se à matéria do amor. Do que é feito o amor? O que se dá, quando se dá amor? Que algo se sente, que há algo que se transmite a quem se ama, ou nao? Se nada se transmite entre dois amantes, então quando os dois estão juntos o que se altera e lhes provoca desde sorrisos a lágrimas? Portanto, poderemos teorizar que os amantes oferecem ao outro alguma coisa... amor, pois bem. Então, será o amor composto de matéria amor...

Ou talvez possa ser tudo psicológico, auto-induzido, uma ilusão que nos entusiasma e nos provoca aumento de adrenalina, suores, calores, euforia. Com tais efeitos, admiro-me que ainda não haja comprimidos ou pastilhas de amor. Quem se atreveria a analisar os efeitos fisiológicos e neurológicos do amor e sintetizar drogas para emular o sentimento? Quem se atreveria a aniquilar a "magia" do amor.

Será que é magia? Talvez seja uma combinação de palavras e gestos que provoca no alvo uma "reacção amorosa", deixando-o encantado. Que muita gente fica encantada isso é certo. Fica encantada além da sua própria visão e racionalidade. Muita gente comete "loucuras" por amor, se trai a si mesmo em nome do amor, ou até comete crimes contra terceiros em nome do amor.

Será que haverá uma noção concreta e real de amor, e que tanta perspectiva seja efeito das deturpações individuais de cada um? "Amor" assenta em tanta coisa, e afinal acaba por não ser nada exacto. É bem possível que haja 6 mil biliões de formas diferentes de ver a questão e de amar.

Bem, assim sendo, a minha perspectiva (talvez utópica) de amor:

O amor preenche quem ama. O amor real é tão mais intenso quanto a capacidade pessoal de uma pessoa amar. Daí que alguém possa amar muito quem não a ama. O amor real não necessita de retribuição do "objecto" amado. O amor real encontra os seus motivos nas coisas mais puras, mais simples, e não requer elaborações e esquemas de produção. O amor real brota de quem ama, intencionalmente. Não pode ser forçado a manifestar-se. O amor é uma oferta, que pode ser dirigida/sentida especialmente em dado momento por alguém, e noutro momento manifestar-se como alegria, vontade de viver, paz interior, percepções de beleza, etc.. O amor não deve ser acusável de abandono, pois o amor real, puro, não pertence a um indivíduo. O amor verdadeiro é demasiado precioso para morrer em mãos distraídas. O verdadeiro amor encontra forma de se preservar puro, é uma preciosidade que sobreviverá num rebento verde, numa gota de orvalho, num raio de sol.

A beleza não faz das coisas amor. O amor é que faz as coisas belas.



(poderia continuar)

quarta-feira, agosto 10, 2005

Outras perspectivas

Para certas pessoas, imaginar que existe um destino que nos guia é algo assustador. A ideia de sermos meros peões no jogo sabe-se lá de quem é compreensivelmente preocupante, e a possibilidade de até a nossa preocupação ser um efeito dessa manipulação é desmotivante.

Mas vejamos, se existe um destino, e se tudo o que decidirmos ou fizermos for manipulação, então nada está nas nossas mãos. Nesse caso, parece-me que a única coisa inteligente a fazer é agir como se estivesse realmente tudo nas nossas mãos. Afinal, já que estamos a ser manipulados e não temos culpa de nada, mais vale agradarmo-nos tanto quanto possível, não nos retraírmos, possa isso chatear ou não outras pessoas e as suas vontades. Mas como se o destino existir, assume-se que é igual para todos, quem se chateia está a ser tão manipulado como vocês. Na verdade eles nem estão chateados de verdade, apenas estão a ser "convencidos" de que estão...

A própria natureza de todos os sentimentos humanos perde a importância, a sua validade como sentimentos genuínos.

Talvez algumas pessoas creiam que ao assumir essa liberdade teriam muitos problemas, e não se sintam à vontade com esta postura que aqui descrevi. Talvez estejam a ser manipulados para não se sentirem à vontade...e agora? Face a este impasse, ficam-se pela manipulação, aceitam o vosso controlo, o vosso medo, a vossa hesitação, ou experimentam outra visão das coisas?

Está nas vossas mãos (ou quem sabe, talvez não...).

segunda-feira, agosto 08, 2005

O silêncio

Nada pode ser feito intencionalmente para salvar alguém. Nenhuma mensagem se transmite que carregue até ao receptor a verdadeira intenção do emissor. Todos nos encontramos separados de todos na nossa individualidade. Todos temos sobre nós milhões de vontades alheias e perguntas que nos levam a lado nenhum, que nos levam além da nossa compreensão e nos deixam pequenos e impotentes. Todos estamos mergulhados em todos, debatendo-nos para sermos um só, jurando que somos diferentes de todos os outros.

E todos temos os olhos, os ouvidos e a boca tapada.

Os Pastores são as ovelhas que berram pela sua própria salvação, abrindo caminho em si mesmos enquanto tentam chegar aos outros.
Ninguém com nome próprio poderá alguma vez ser livre.

A felicidade, é o outro fundo do buraco da infelicidade.
Os sorrisos são as flores desabrochadas que foram regadas pelas lágrimas.
A luz e a escuridão, são o respirar e o expirar, o dia e a noite, da vida e da morte.
A imagem de uma ilusão, invertida num espelho, não é a imagem da verdade.

O silêncio é o som que resta para quem já nada tem a ouvir.

Nenhum vivo se salvará à morte. Só os mortos serão eternos.

E este, o planeta Terra, não é o planeta da Paz.
Qualquer Paz existente neste planeta só se manifesta no interior de quem a alimentou.

Todos somos iguais, e todos podemos apenas caminhar no chão da nossa própria coragem e esperança, só podemos pisar aquilo em que a nossa visão acredita.

Estaremos sempre distantes como estrelas no céu...
E seremos as estrelas do céu...
Longe, brilhando para quem nos quiser olhar.

domingo, agosto 07, 2005

Para quem ainda acredita que existe livre-arbítrio:

Ouvir falar no destino não é para muita gente coisa fácil de digerir. Nem podia ser, imaginar-se de repente que nada nos é controlável e que vivemos como marionetas de algo ou alguém, e a possibilidade dessa força/vontade nos andar a iludir, a escapar, a gozar, desde que tomámos consciência de nós mesmos. Faz parte do diálogo de qualquer ser que acredita na liberdade, afirmar que:

Uu destino não existe de todo...
...ou existe mas pode ser mudado.

(lógico, sob risco de se comprometer a liberdade)

Das duas possibilidades, a primeira obriga à existência do acaso, da sorte e do azar, tornando a nossa vida (quase) igualmente incontrolável e atirando o ser para uma vida de caos onde seis mil biliões de pessoas manifestam a sua individualidade e igual direito à fortuna (mas com as mesmas probabilidades de acesso ao infortúnio).

A segunda teoria implica a existência de algo, da aceitação de uma qualquer inteligência que nos guia, mas com a qual o ser pode ou não colaborar, caso decida fazer as coisas de outra maneira. Se existe então destino, não será que os planos que nos estão destinados são-nos de facto adequados? Se sim, para quê lutar com o destino? E se não os consideramos adequados, então qual seria o sentido de nos ser destinado? Será que nos foi destinado ao acaso!? Será que quem atribui os destinos é incompetente e passa a vida a fazer más associações de pessoas aos seus destinos?

Para quem acredita que se podem contrariar as tendências do destino, para quem acredita que existe livre-arbítrio, então tenha atenção e pondere cuidadosamente as suas opções:

É no momento em que se toma uma decisão que se escreve o nosso futuro (em todos os segundos da nossa vida portanto). De todos os possiveis finais para a nossa história pessoal, a cada decisão que tomamos, por mais insignificante que possa parecer, mais nos aproximamos de um final e nos afastamos de um outro. Quanto mais longe se avançar num caminho, mais difícil será voltar atrás e encontrar aquela encruzilhada onde nos questionámos sobre a melhor direcção a tomar.

Para quem passa a vida a falar do futuro e vai vivendo o presente sem sensatez, ou aqueles que afirmam que amanhã logo será o dia certo para "aquela" decisão importante:

Quanto mais tempo andarmos às voltas perdidos na floresta, à toa e sem parar para ponderar inteligentemente as direcções, mais se ficará desorientado e perdido. Por cada passo numa direcção casual, por cada dia que apesar de perdidos caminhamos, mais afastados podemos estar a ficar de achar a nossa meta, e possivelmente mais perdidos ficaremos. Cada dia de caminho que não seja na direcção certa, implicará outro dia para regressar nas mesmas passadas, e um dia, podemos já não ir a tempo de voltar atrás...

Certos caminhos deixam marcas para sempre, certas decisões trazem consequências irreversíveis, e sempre que uma oportunidade passar, há possibilidade de nunca mais voltar a tê-la. Os sorrisos e as lágrimas vão e vêm, mas uma decisão insensata pode causar danos vitalícios. Todos os minutos que passam são minutos a menos entre nós a morte.